DESCRENÇA

Se tudo na vida passasse

De verdade ninguém saberia

O quanto o amor desafasta

A alma da poesia,

E o sopro da insensatez.

Na ausência da timidez

Fica a rima sem bom senso

E o poeta sem destino.

A lei que governa a vida

Sem querência e sem valor

Se esconde na avenida,

À espera do trovador.

Nos passos daquela menina

Que um dia livre será,

Cresce a crença e a descrença

Em tudo o que anuncia

O mantra do amor que ensina

Que passou ou que virá.

O matuto sabe de cor

A prosa da vida inteira.

Não gasta tempo a colher

Os frutos que não plantou

Fincados em terra alheia.

A memória da vida regrada

Na lápide inscrita em segredo

Controla o peso do tempo

Sufoca o futuro do medo

Ancelma Bernardos
Enviado por Ancelma Bernardos em 20/03/2017
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