DESCRENÇA
Se tudo na vida passasse
De verdade ninguém saberia
O quanto o amor desafasta
A alma da poesia,
E o sopro da insensatez.
Na ausência da timidez
Fica a rima sem bom senso
E o poeta sem destino.
A lei que governa a vida
Sem querência e sem valor
Se esconde na avenida,
À espera do trovador.
Nos passos daquela menina
Que um dia livre será,
Cresce a crença e a descrença
Em tudo o que anuncia
O mantra do amor que ensina
Que passou ou que virá.
O matuto sabe de cor
A prosa da vida inteira.
Não gasta tempo a colher
Os frutos que não plantou
Fincados em terra alheia.
A memória da vida regrada
Na lápide inscrita em segredo
Controla o peso do tempo
Sufoca o futuro do medo