Do alto das montanhas, estrelas caem,
Do alto das montanhas, estrelas caem,
Todavia, só as viu o lavrador;
Olhou, solitário - os cavalos traem
A noite com coices, relincho e dor.
Tirou as luvas pesadas que tinha,
Coçou os olhos, tamanho o temor,
Olhou, solitário, a cavalaria
Do anjo caído, imigo do Senhor.
Pôs-se a correr, aguardar não podia,
Era preciso avisar a cidade.
Largou sua inchada, foi-se à vila,
Alertar sobre a vindoura maldade.
Mas quem ouviria homem maluco
Do campo que larga a inchada e parte?
- Vai trabalhar, ô lavrador estulto,
- Aqui não há tempo à tua viagem!
Correu até a casa do homem mais culto,
Padre, o senhor tem de me escutar,
- Desculpe-me, agrícola, não te escuto,
- Eu tenho antes de ver o sol raiar.
Sem esperanças mas desesperado
Foi a quem ouvidos iria dar:
Mulher, arruma-te, vamos, e rápido,
Cá nesta casa não vamos ficar!
- Ó doce marido, sê tu mais calmo,
- Esta casinha o mal não vai ter,
- Sou tua mulher, e és meu regalo,
- O nosso lar irá nos proteger.
E assim foi, lavrador foi à cama
Acreditando que iriam viver.
Deitou-se, ao lado, a sua dama
- Tudo ficará bem, tu irás ver.
Pela manhã, a mulher que ele ama
Beijou-lhe o rosto e deu-lhe um café,
- Viu só, meu amor? Há nada em chama!
Feliz foi com virtuosa mulher.
Porém, ao sair, viu algo de estranho,
E nem era estranheza qualquer:
Homens e mulheres estavam brigando,
Gritando, chorando, - Tu malmequer!
Todas as famílias se desmanchando,
Todos pais e mães sofrendo divórcio,
E crianças que por colo implorando
Só recebiam - É de adulto negócio!
Viu o lavrador, quando estrelas caem,
Nula-se até mesmo sacerdócio -
Só o casal que própria estrela faz
Soube que amar não é cair em ócio.
19/3/2017