HORA DA AVE MARIA

HORA DA AVE MARIA

era tanta preguiça

que a tarde espalhava

por cima

dos colchões de folhas

que as sombras

brincavam

de esconde-esconde

por debaixo

das hastezinhas

verdes

moles

e

tontas

era um corre-corre

de luz

passando de galho em galho

que as árvores

matronas cansadas

imploravam sossego

às alisadas

gramas

aos desleixados

matos

e o riso rasgava

perfume

nas faces das flores

era chegada

a hora da Ave Maria

hora sagrada

badalando noite

adormecendo dia

o silêncio púrpura

espocava magentas

no céu

nas casas

nas asas das maritacas

e os vagalumes

à toa

à toa

preparavam brilhos

no caminho dos sapos

que bebiam a lagoa

e

não havia

mesquinharia de beleza

e

só havia

nos braços da noite

um manto de realeza

que cobria

solenemente

todo João

toda Maria

Mírian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 15/03/2017
Código do texto: T5941660
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