HORA DA AVE MARIA
HORA DA AVE MARIA
era tanta preguiça
que a tarde espalhava
por cima
dos colchões de folhas
que as sombras
brincavam
de esconde-esconde
por debaixo
das hastezinhas
verdes
moles
e
tontas
era um corre-corre
de luz
passando de galho em galho
que as árvores
matronas cansadas
imploravam sossego
às alisadas
gramas
aos desleixados
matos
e o riso rasgava
perfume
nas faces das flores
era chegada
a hora da Ave Maria
hora sagrada
badalando noite
adormecendo dia
o silêncio púrpura
espocava magentas
no céu
nas casas
nas asas das maritacas
e os vagalumes
à toa
à toa
preparavam brilhos
no caminho dos sapos
que bebiam a lagoa
e
não havia
mesquinharia de beleza
e
só havia
nos braços da noite
um manto de realeza
que cobria
solenemente
todo João
toda Maria
Mírian Cerqueira Leite