Rimbaudiana I
(Ou O Homem do Mar)
Cala-te, agora, escravo.
Põe teus anseios em minha boca,
Coroa o frêmito de meu peito
Com tua pele cheia de mortes.
Outra vez te vejo saindo
Do fundo mar, um Netuno:
Nu. O corpo repleto
De gotas de água salgada.
És como um pai, viril.
És irmão de meu desejo infame.
Trago partes de minha alma nos bolsos
E ofereço a ti como prenda.
Deslizo pelas paredes do quarto
E morro a cada segundo,
Enquanto dormes,
Tentando adivinhar-te os sonhos.
Sossego quando me olhas
Com a frieza do oceano,
Quando enfim te reconheço:
Meu demônio, meu espelho.