COMBOIO DE GENTE

Meu peito é um circo,

coberto com lona

imunda e rasgada...

Uns veem a alegria,

outros apenas a tristeza.

Eu já não ando vendo nada!

Meu peito é um céu

nublado e distante,

mundo ilusório...

Uns veem esboços de anjos,

outros, um cinza de chumbo,

Eu vejo um céu conspiratório!

Meu peito é uma rua deserta,

com domicílios fictícios,

num beco sem saída...

Uns desistem e ficam,

Outros batalham e tombam,

Eu me escondo nessa casa caída!

Meu peito é árido, ora úbere.

Sei fazer a guerra de tiros,

sei lutar com os vocábulos...

Aonde uns ouvem os tiros,

outros plantam seus mortos

ocultos em taciturnos óculos!

Meu peito é terreno de mangue,

serpentes d'água e caranguejo,

ilhado por paredões barreados...

Uns achegam e enfiam a mão,

Outros não acham mais os vãos,

e todos em comboio, ajoelhados!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 15/03/2017
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