DITADOS DEITADOS
Espere pelo que escorre entre o céu e a terra,
Como chuva ao pé da serra ou como um nada,
Não, não há céu, não há poesia ou imaginação,
Na vã filosofia terá coisas que se desconhece.
Que estejam pássaros voando em liberdade,
Nenhum nas mãos, bastam os dedos presos,
É melhor ter o voo no olhar, ao canto triste,
Asas e penas são dóceis vestes para prisões.
Que não se tenha verões e se tenha o único,
Numa só andorinha se fará todas as estações,
Na amostra soma-se uma iniciativa individual,
Do conjunto unitário se pari todo o coletivo.
Se na fraca voz do povo não se ouve o Deus,
A democracia morta a sair pela porta aberta,
Veias estouram em gritos roucos de poucos,
E aqui, sabe-se há tempos que Deus é mudo.