ARRUMANDO GAVETAS

...tudo entornado num altar único...

seleciono o que for dádiva aos deuses do meu apreço...

o que comporta algum prazer, ainda que lembrança,

deixo ainda para holocaustos pros meus risos futuros...

os mais, descarto...

ardo-me em expectativas...

redescubro o ido...

passado carpido e de novo o reviver de antigos passos...

uns dóceis ao propósito urdido

outros descabidos...

não me agrido novamente nem reabro cicatrizes...

deleto o que me desgasta...

em nova pasta só arquivo o que me agrada...

talvez em outra aventura sobre nada...

por hora a lista:

- teu retrato

- cartas de amor que me desnudavam sonhadora

- alguns objetos que marcaram a cena

- a medalhinha tão pequena, teu presente, Mãe dos Sonhadores...

- Um livro de poema e a rosa vermelha que me destes, petrificada ao tempo entre as páginas ilustres...

e ainda o vazio do que foi posto de lado...

tudo arrumado encaixo a peça no armário

e me desfaço do que resta, sem valia...

prossigo o dia, e bem verás, segues, velado

por insistência do meu ser apaixonado...

Ana Maria Gazzaneo

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 13/03/2017
Código do texto: T5940175
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