12 BADALADAS

Estou de permanente partida

Perdoem-me aqueles a quem

Feri, magoei e decepcionei.

Morre pequena a chama da vela

Escuto os sinos distantes,

Anunciam o descarte final.

Arauto do meu calvário findo.

Segui inabalável, até aqui,

Mas os sinos a cada batida

Vil e ominiosa me desfazem

Abalam os frágeis ossos do firmamento

Cedem rendidos meus pés entediados, pois

Não voltarão a se levantar jamais. Não há erro,

Defeito de perspectiva: se encerra uma vida.

Dentro, abismos desmoronam e se nivelam

Pela reverberação da boca do campanário

Para a boa morte não tenho

Cansaço ou rechaço, só resignação.

Arrebentam-se as cordas gastas da oração,

Nada de diamante ou nobre, fui pedra barata.

Desmancho-me ao som límpido dos sinos,

Rui o eu-templo rumo ao líquido silêncio dos ais.

Ao calar das santas 12 badaladas

Uma nova alma se erguerá aos céus.