BRUMAS
BRUMAS
eram águas tão claras
tão suaves
e calmas
o vento inventava brabeza
e as águas tremiam
notas
de um canto solene
e não estavas tu
entre as colunas
do tempo
entre os voos lilazes
das borboletas
nos vitrais do lago
e eu
refazia-te em mim
furtando gotículas de tua vida
esquecida
e tu
não mais vasto
que o sopro
úmido sobre as montanhas
por detrás das coisas
e das casas
erravas
incorpóreo nas catedrais das minhas lembranças
tu
já não podias
abrir-te em abraços
eu
já não podia tocar tua alma
e meus olhos cansados
e brancos
flutuavam
na cegueira das brumas
dos amantes
esquecidos
nos mananciais
do tempo
que morto
não renasce jamais
Mírian Cerqueira Leite