BRUMAS

BRUMAS

eram águas tão claras

tão suaves

e calmas

o vento inventava brabeza

e as águas tremiam

notas

de um canto solene

e não estavas tu

entre as colunas

do tempo

entre os voos lilazes

das borboletas

nos vitrais do lago

e eu

refazia-te em mim

furtando gotículas de tua vida

esquecida

e tu

não mais vasto

que o sopro

úmido sobre as montanhas

por detrás das coisas

e das casas

erravas

incorpóreo nas catedrais das minhas lembranças

tu

já não podias

abrir-te em abraços

eu

já não podia tocar tua alma

e meus olhos cansados

e brancos

flutuavam

na cegueira das brumas

dos amantes

esquecidos

nos mananciais

do tempo

que morto

não renasce jamais

Mírian Cerqueira Leite

Mileite
Enviado por Mileite em 11/03/2017
Código do texto: T5938060
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