O GIRO DO PIÃO
O GIRO DO PIÃO
BETO MACHADO
O giro imóvel que o pião pratica
Trás muita ilusão pros olhos,
Como o requebro que teu glúteo justifica
Ser pra manter os ares de ser jovem.
Mas quando fores anciã, se assim o fores
Terás saudade do que não tiveste:
A singeleza de uma flor silvestre
E o olor sublime doutras flores.
Aí, o giro bambo do pião me acena
Com a flacidez dos músculos cansados
E os olhos meus, já bem avermelhados,
Também saudosos dos requebros, dos gingados,
Do corpo dela que era só beleza,
Mergulham no abismo da memória,
Revivendo dos dois a trajetória
Sem dor, sem pena, sem tristeza.