TRISTE CARTILHA
Mamãe por que tia chora ao ver a cartilha
E a lágrima brilha
No parco papel
Eu vi suas mãos tremendo
E os lábios dizendo:
"Saudade cruel"
Me conte o motivo de tanta tristeza
E por gentileza
O que tá escrito
Naquela cartilha dobrada
De letra malvada
E conto esquisito.
Mamãe o que aconteceu, diga sem medo
Se for um segredo
Guardo comigo
No cofre do meu coração,
Mas diga a razão
Para tanto castigo.
Meu filho, minh'alma querida
Tu és nessa vida
Em quem eu confio
Porem eu guardo a miúde
Esta atitude
Há anos a fio.
Tua tia em juventude e brilho
Teve um filho
Por nome Miguel
Tornou-se um menino valente
Tão inteligente
De escrita e papel.
Miguel era um jovem educado
Rapaz forjado
De boa moral
Teve um bom estudo
Lia de tudo
Do livro ao jornal.
Aquela cartilha que sua tia olha
E o pranto molha
O parco papel,
Foi guando ele ainda inocente
Ganhou de presente
Por ler um cordel.
Porem a flecha que aleija
É a da inveja
Ferina e cruel
Essa seta da morte
Ferio a sorte
Ceifando Miguel.
Um certo "amigo" malvado
Não educado
Como Miguel
Criou em si um despeito
E fez esse feito
Terrível, cruel.
Miguel jovem honrado e bonito
Gerou um conflito
Silencioso
Não conhecia o perigo
Daquele "amigo"
Covarde, invejoso.
Filho é grande a sua vontade
A realidade
Você vai saber
Porque Miguel foi ceifado
Da vida exilado
Só por saber ler.
Ele era um jovem afamado
Intitulado
O poeta novo,
Porque lia com graça
Poemas na praça
A vista do povo.
Ele a todos encantava
E o rico pagava
Pra lhe escutar
Porem a inveja pateta
Quis o poeta
Sem versejar.
Esse amigo da onça
De cara sonsa
Acompanhava
Miguel desde que era menino
E já tinha o tino
Que lhe invejava.
Mamãe por que a inveja, com esse meu primo
A quem eu estimo
Sem nem conhecer
Perdeu o rumo e a trilha
Porque na cartilha
Aprendeu a ler?
Meu filho, a inveja é um monstro malvado
Comete pecado
Que doí e maltrata
Apesar de ser amigo de infância
A ignorância
Feri e mata.
Tua tia sempre sentiu a traição
Sentia no coração
Aperto oprimido
A esse não tinha afeto algum
Porque ele era um...
Judas enrustido
Esse falso amigo ladino e safado
Mandou um recado
Curto e urgente
Dizendo:-"Miguel venha correndo,
Tua mãe tá sofrendo
Muito doente"
Miguel filho amoroso saio na carreira
Desceu a ladeira
De alma cortada
Sem saber que o infame bandido
Tava escondido
Numa emboscada.
Foi guando ouviu lá do mato:
"Sou xucro de fato
Não tenho saber
Tu vivi sempre notado
Eu fico de lado
Porque não sei ler"
"Eu ando cansado de ser esquecido
Por ter vivido
Sem fama e brilho
Agora é o fim da tua trilha
A tua cartilha
Tá nesse gatilho"
Esse foi o fim do primo Miguel
A inveja cruel
Tirou a alegria
O mundo da tua tia não brilha
Ao ver a cartilha
Que o filho lia.
Por isso te peço perdão, porque eu sei,
Que nunca deixei
Tu nada aprender
É que um forte medo me bati
E a inveja te mate
Por tu saber ler.