Mulher
Que dizer? Acaso há um canto
universal? Uma voz uníssona?
Um e mesmo propósito de ser?
Que saudar? O eco blasfeme da linha
da animalidade? O útero em placenta?
O clitóris a faca? O hímen? Sim, Senhor.
O que ouvir? O grito das fábricas?
O choro engolido? A asfixia do estupro?
O silêncio rastejante de joelhos em prece?
Onde a mulher? No banco dos réus?
No hospício? Detenta? Visita? Objeto?
Em Sodoma, de Ló, estátua do olhar?
A mulher que se sabe? A da vida?
A honesta? A da margem? A que parte?
A que não nasceu? A que nasceu? A porvir?
Que palavra é essa? Que fome há nela?
Onde a morada? Qual essência?
Quem habita o vestido e o verso?
Helenas, Hipácias, Safos, Joanas,
Catarinas, Simones, Virgíneas, Bovarys
Clarices, Adélias, anônimas Capitus...
Evas, Teresas, Camiles, Fridas,
Tarsilas, Berthas, Nises, Nísias, Dandaras
Chicas e Marias da Penha sem fim...
Qual voz? Qual vez? Qual veste?
Qual luta? Qual luto? Qual altar?
Um dia? Por tratado? (Com) moção?