Coberturas
Cubro meu corpo com roupas,
Malha, algodão, linho ou brim,
E minha alma encapo também,
Com solidão, carinho ou motim.
Protejo-me, como a rosa ao jardim,
Meus espinhos, soldados de alguém,
Reprimem na porta do sentimento,
Montam uma falsa guarda ao relento,
E permitem bem mais que ninguém.
O sim, tão mais fácil que o não,
É com ele que orno meu coração,
Por ser ameno e não causar desdém,
Cresci assim, travestido de amém,
Porém, é hora de esconder o doce,
Fechando os poros que a vida trouxe.