Crianças sírias

Os justos do mundo

Sempre rezarão

Pelas crianças sírias

Os justos do mundo

Sempre vão se preocupar

E jamais amarão a bomba

Ainda que o sol se apague

E os sussurros da lua

Inaudíveis para os poetas

Tornem-se

As crianças sírias

Não sonham ser astronautas

Jogar futebol

Que papai e mamãe

Parem de brigar

Ou com um recreio eterno

Elas sonham

Com o dia

Em que as bombas

Vão deixar de cair

As crianças sírias

Não brincam nos parques

Não escorregam em direção aos céus

Não anseiam por brinquedos novos

Não arquitetam planos infalíveis

Para ocultar travessuras

Estão a mercê das bombas

O senhor Donald é muito ranzinza

Não quer crianças sírias em seu quintal

Morrer no mar

Ou bombardeadas

Elas podem escolher

Se uma nova estrela de Belém

Surgisse no Oriente Médio

A cobiça por petróleo a apagaria

A plutocracia é um anjo exterminador

Ceifa vidas e colhe dinheiro

Para os senhores da guerra

E diz não ao genuíno natal

Somos tão civilizados

Com nossos penduricalhos tecnológicos

Mas não deixamos de produzir

Crianças sírias no mundo todo:

Crianças escravizadas

Abandonadas

Violentadas

Mutiladas

Despedaçadas

Sonhos proibidos

Na Aurora da vida

A mão de Abraão

Pesando sobre Isaac

Herodes dando gargalhadas

Com seus rudes convivas

Bruxas e ogros tão reais

E as crianças sírias

Só têm as lágrimas das mães

E dos profetas.

(Jardins incinerados.

Compaixão não basta

Tantas vezes vaidosa)