SURDO E CALADO
(Sócrates Di Lima)
Ando calado,
Na multiplicidade dos meus dias,
Não é m fado,
Nem tampouco rebeldias.
Primei-me pelo calar,
Que no passado não me vinha,
Recolhi-me, deixei de falar,
Das dores que outrora tinha.
E por mais que silenciado esteja,
Não me faço triste e nem moribundo,
Talvez seja a dura peleja,
Como duro é o viver no mundo.
Foram-se os dias vulgares,
Dos amores em pares,
Que por tantos lugares...
Não mais volteia aos seus ares.
Aquiete-me em corpo e alma,
Esvaziei o me coração,
Fechei os olhos como a mão a palma,
para não tocar nem retocar a emoção.
E se os amores foram assim embora,
Por E não dar a devida importância,
Tanta coisa mudou, ai fora,
Que recolhi-me a certa ignorância.
Há noites que se fizeram dias,
E dias e se fizeram noites,
As saudades ficaram nas nostalgias,
Como os ventos em açoites.
E assim, corrijo-me e fiscalizo-me,
Para não cair nas tentações de outrora,
Das dores e desilusões, finjo-me,
No fingir que os sentimentos se foram embora.
E como as noites em seu silêncio profundo,
Na redes da minha vida me vejo cercado,
Do novo que estar por vir, fecundo,
Enquanto isto me ponho surdo e calado.