Nas profunduras do tempo
Nas profunduras do tempo
Nasce a vida,
Renasce…
Surge a esperança
Nascidiça
De novo sorriso
Inocente
Sobre as notícias
Desse dia…
Hoje a canção
Se renova
Em tamboramento,
Lamento
De que foi prosa,
Agora senso.
Assim se falseia vida
De lida em lida…
Lida nas entrelinhas.
Braveja o cão assustado
Com tal revelia de fatos,
Do fato de finda a lida.
Essa voz sumida
É mais um poeta
Se indo embora
Na prestação da vida…
Nas chamas da juventude
Vê-se ao frio da memória.
Cantado em verso e prosa
Dessas alegres estórias
Um vai e vem de sonhos,
Um vem e vai de tombos
Ao fim de tantas viagens
Essa cor púrpura invade,
Uma pequena chama
Que se abre entre
As frouxidões da idade…
Quanta espera
Por essa demora
De sentir-se indo
Tarde…
Preferiria estar entre
Essas folhagens invernais
Do que nessa fotografia
Dos tempos deixados atrás…
Na foto ao vivo retrato
De um tempo indo com
A felicidade fugaz…
Porque tudo é dissoluto
Entre as verdades mentidas
Ao tempo de ter-se o luto
Como despedida…
Pobre ledor das inverdades
Trazidas ao cabo da vida.
Das quantas formas vividas
A menos desapercebida
Seria a voz da saudade
Das coisas deixadas livres,
Entre matas e serragens
Uma estreita aragem
Desmedida.
Deveria ter feito mais
Entre as tarefas vencidas…
Mais lenha na fogueira,
Um gelo na limonada…
Um canto livre ao pássaro
Chorando preso…
Agora, no azedume da hora
Não vale arrependimento,
Apenas constatar que o tempo
Explora sua memória
Fazendo chorar a volta
Na hora de ir-se embora.
Nesse velório dileto
Descobrir que morrer pode
Tornar a ser-se feto.
Poderia ter concluído
As tantas pontes começadas
Entre amizades e estradas…
Ter ouvido para óperas,
Ter sentido para perdões…
Ser perdoado também
Entre os pecados cometidos
A cada vez do sentido,
A cada voz da razão.
Assim o poeta, de antigo,
Passa a ser raridade
Entre relógios na parede,
Cucos cantando saudade…
A mera constatação
De que o sol está se pondo
Sem misericordiosa luz
Faz do poeta apagando
Um outro iluminando
O fim do túnel versado.
Levaria tempo infindo
Somar esses labirintos
E voltar a ser lúcido…
Mas que forma levaria
Essa história…
Essa fábula…
Essa crônica do mundo
Tornar-se a voz de tudo?
Nas profunduras do tempo
Há de formar-se uma nuvem
De esquecimento…
As culpas relevadas,
As vitórias desaçamadas,
As voltas valorizadas
Tanto quanto as idas…
As formas de despedidas
Deixadas em lágrimas
Dissentidas.
Deixariam os pensares
Acumularem-se na mente
Entre lamúrias e cânticos…
A voz dos seres antigos,
A voz dos idos ao longe
Entre sons e rabiscos…
Pobres coitados,
Citados como estorvos,
Lobos a fim de lobos,
Rabos a fim de rabos…
Nesse fogo a apagar-se
A última chama indo-se
Aos pendores da tarde…
Algo bem aceitável
Para um tempo findando
Ao crepúsculo dessa arte
Entre inimigos vindo
Conferir-lhe uma reza
De boa viagem.
Assim se falseia vida
De lida em lida…
Lida nas entrelinhas.
Braveja o cão assustado
Com tal revelia de fatos,
Do fato de finda a lida.
Hoje a canção
Se renova
Em tamboramento,
Lamento
De que foi prosa,
Agora senso.
Nasce a vida,
Renasce…
Surge a esperança
Nascidiça
De novo sorriso
Inocente
Sobre as notícias
Desse dia…
Eternamente.