UM FADO PORTUGUÊS
Um dia, eu quero poder me enxergar,
Olhar os veios das minhas rugas e meus cabelos brancos,
E ter a certeza que a responsabilidade da minha senilidade,
Solitude e tristeza adveio das decisões que tomo hoje.
Eu quero poder não sentir o lado esquerdo da minha cama e saber que foi eu quem quis assim.
Quero sentar sozinho em minha mesa e não enxergar mais do que um prato, um copo, alguns talheres e uma comida insossa, mesquinha e venenosa.
Eu sempre me fiz sozinho.
Não que eu caminhe sozinho,
Mas as entrâncias da minha consciência sabem que eu não moro com ninguém,
E nem ninguém me quer como fardo.
Aliás, como companhia para essa tristeza, somente um fado português.
A solidão pode assustar a maioria das pessoas,
Mas a mim, ela é a companheira mais amável para os dias de chuva,
Para os dias de verão e, principalmente, para os dias que virão!
Eu me faço só e é nesse cajado que sustentarei a minha força...
Sei que a solidão nunca se esconde...
Ela sempre te espreita, mas respeita a nossa vontade de não querer sempre estar juntos.
Eu decidi ser sozinho por que não mereço, de ninguém,
O carinho para algo que não posso trocar... devolver.
Não me existo no eterno retorno... Mas me sinto na teoria do Caos