FARELOS DA VIDA.
Quantos anos eu terei
Quando o mundo acabar
Ou se o tempo roubar
Tudo que eu já decorei
De uma coisa eu sei
O mundo não terá cova
O tempo será a prova
Que esse mundo morrendo
Por certo já vem nascendo
No corpo da terra nova.
Quantos anos eu terei
Se outro mundo vier
Se profecias houver
Criando uma velha lei
Quantas bíblias eu lerei
Nesse mundo construído
E quem será escolhido
Para pagar o pecado
Num mundo crucificado
Por ter de novo nascido.
Quantos anos eu terei
Se acaso envelhecer
Ou se nada mas morrer
O que de novo eu farei
Por certo eu inventarei
Tudo que foi inventado
O amor alucinado
No coração do presente
Então o mundo recente
Terá de novo o passado.
Quantos anos eu terei
Se tudo virar ruína
Se minha fera divina
Virar um anjo sem lei
Para que céu voarei
Com meu enxofre sagrado
E quem irá ser comprado
Pelas moedas de ouro
Trair o mundo vindouro
Com o antigo pecado.
Quantos anos eu terei
Guando eu nascer de novo
E quem será o meu povo
Serão os que eu criei?
Os que não vejo eu verei
E esses irão me criar
Depois irão me contar
Histórias que eu já vivi
Vão ler tudo que já eu li
Nos livros que eu soletrar.
Quantos anos eu terei
Quantos "EU" terei no mundo
Serei raso ou profundo
Quantas pontes passarei
Que mundo novo eu verei
Que no velho mundo não tem
O velho ao novo convém
Por isso terei saudade
Quando eu ver a mocidade
No novo mundo também.
Quantos anos eu terei
Quando mas nada houver
Ou se tudo estiver
Do ponto onde eu parei
Talvez perdido eu vaguei
Por pensamentos incertos
Dormi em livros abertos
Na mesa dos devaneios
E acordei com receios
Dos livros estarem certos.
Eu tenho medo e coragem
Eu temo a vida e a morte
A cicatriz vem do corte
Da tirania selvagem
Quem sonha faz a viagem
Que os defuntos fizeram
Quando acordam ponderam
Num mundo alucinados
Então não são mas lembrados
De como vivos eles eram.
Não sei se terei idade
Ou só o tempo e o espaço
Ou se serei um Picaço
Pintando a vaidade
Na tela da novidade
A tinta se cristaliza
A vida se realiza
Na sua obra mas bela
Mostrando assim que ela
Também é uma Mona lisa.
Não sei se um dia serei
Ou se já sou no momento
O certo é que o pensamento
São asas que eu voarei
E outro mundo eu verei
Noutra esfera perdida
A alma torna nascida
Ao mundo que se desdobra
Criando a grande obra
Em outra tela da vida.