DESPERTO
DESPERTO
Numa manhã qualquer
Num lugar que não escolhi
Fui escolhido sem dedo
Nem sei se gosto ou não daqui
Mas aqui estou
Preso as amarras que amo
Que riem, que choram
Que calam, que falam
Que vejo todo dia
Na minha cegueira de ocasiões
Visto roupas que não tenho
Coloridas monocraticamente
Desnudo-me
Na minha visão de azul
Claro quando dia
Denso quando noite
Acordo sem dormir
E faço acordos
Faço também acordes de palavras
Que brotam aos borbotões
E calam fundo a estupidez
Das diferenças de modos e tez
Com as quais convivo
E me regalo
Enquanto o galo
Anuncia mais um alvorecer
E tudo quer parecer
Paraíso dito infernal
Em que silêncio é fragor
Poesia é dor
Sempre presente
Mesmo que me ausente