DESPERTO

DESPERTO

Numa manhã qualquer

Num lugar que não escolhi

Fui escolhido sem dedo

Nem sei se gosto ou não daqui

Mas aqui estou

Preso as amarras que amo

Que riem, que choram

Que calam, que falam

Que vejo todo dia

Na minha cegueira de ocasiões

Visto roupas que não tenho

Coloridas monocraticamente

Desnudo-me

Na minha visão de azul

Claro quando dia

Denso quando noite

Acordo sem dormir

E faço acordos

Faço também acordes de palavras

Que brotam aos borbotões

E calam fundo a estupidez

Das diferenças de modos e tez

Com as quais convivo

E me regalo

Enquanto o galo

Anuncia mais um alvorecer

E tudo quer parecer

Paraíso dito infernal

Em que silêncio é fragor

Poesia é dor

Sempre presente

Mesmo que me ausente

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 28/02/2017
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