KAISER NINGUÉM II
Eu sou o filho de sagitário, sou a estrela ofuscada
Sou o conto do vigário, sou a Espanha e sua armada
Eu sou o cálice de chamas, sou o vinho envelhecido
O perseguido pelas damas, eu sou o amor correspondido
Eu sou o ouro brasileiro, sou o anjo escravizado
Viajei o mundo inteiro, sou desejo desvairado
Eu sou o solo africano, bebo o sangue dos meus filhos
O general que viu o plano e virou um andarilho
Eu sou a mata virgem, o tesouro inexplorado
O carvão e a fuligem, a virtude e o pecado
Eu sou o conde Drácula, o terror da madrugada
Sou a pedra, sou a mácula, sou a porta de entrada
Eu sou emanação do sol, um sussurro ao pé do ouvido
O sustenido e o bemol, eu sou o castelo destruído
Eu sou o fim do mundo e a criança inocente
Seu abismo mais profundo, eu sou o futuro do presente
Eu sou o livro antigo e a ciência do engano
Sou o seu melhor amigo, sou guerreiro espartano
Sou um jogo de azar, sou o dado viciado
Ninguém vai me derrotar, eu sou o rei do carteado
Eu sou o vento do passado e a tempestade do futuro
O medo manifestado, sou aquilo que conjuro
Eu sou o mapa de Eldorado, sua conquista mais recente
O cidadão inebriado, um jogador inconsequente
Sou a mentira mais sincera e a verdade assassina
Sou aquele que te venera, sou vaidade, sou sua sina
Eu sou um sonho de criança, de mim mesmo sou refém
Sou o tempo que não descansa, eu sou o Kaiser Ninguém
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