CANTIGA DO FRIO DIA.
Na fria hora do dia,
deparei-me nesta estrada,
na lente do meu olhar,
o retrato da amada,
a dor que me veio cortando,
como uma lamina de aço,
retornado num espaço
longas eras passadas.
me encontrei em vil delírio,
meu corpo ardendo em brasas,
nos olhos cegos e opacos,
só um sorriso brilhava,
da boca saia o gemido,
que ao longe retumbava,
e no pó da terra fina,
os últimos passos da amada,
morrendo no fim da curva,
como morre o fim da tarde,
sumia na imensidão,
teus longos cachos dourados,
em mim faltava as forças,
de buscar-te num abraço,
no dia a dia da vida,
no frio desta estrada,
o quadro que só eu vi,
ao mundo eu revelava.
Volte, fina formosura,
avencas e roseiras,
entrega de novo a mim,
teu perfume de fim de noite
embebido de alecrim.
Mas , que nada,
pra sempre ela se foi,
com pomba no infinito,
no espaço se dissipou,
meus olhos ainda fixos,
meu corpo morrendo em dor,
nesta fria hora do dia,
hoje nesta estrada vazia,
reescrevo um antigo amor.