O INFERNO PÚBICO

O ar tinha a irrealidade de um sonho gelatinoso - um clima impreciso

sobre uma paisagem metropolitana No céu reina

o Diabo Celeste ou Deus Infernal - cabelos verdes asas rosadas

e corpo de mulher perfeita As estrelas queimando são as caspas

que iluminam o caminho da juba cósmico-marítima

O céu é um ônibus em que o Jesus dos crentes pisa o infinito

entorpecido dos drogados é um misto-quente escorrendo o queijo

derretido das galáxias Por ele caminha o Diabo Celeste ou

Deus Infernal na infinitude da perfeição de um corpo de mulher

ele traz a fórmula das origens no ventre ele atravessa o charco de sangue pululante e deixa pegadas imundas no chão de marfim da Terra Perfeita

Aquí o tempo e o espaço inexistem! Os corpos vivos são ardores

Ele é o Diabo Celeste ou Deus Infernal e no corpo perfeito de mulher

emerge do encharcado sol que veio resolver o problema da poeira

e da lama acabando com os dois enfim o tempo ideal

nascido da menstruação do Diabo Celeste ou Deus Infernal!

Ele caminha sobre nós na consciência do irreal

e arranha a crosta da lua Um bombardeio de vertigens cascateia nas avenidas

Longe de nós as lâminas finas das consciências desatam as tranças das estrelas

cruzada em nó sobre a calvície dos cosmos Ninguém se mostra ébrio o suficiente

para ter sóis nascendo dos vermes Mas chega do que há sobre as nuvens

mesmo quando a lua esmaga formigas na fornicação dos mares vazios

com nossos mares transbordantes e a mesma lua circula em nossas veias esculpidas

de horizontes

As loiras campinas envolvem no encaracolar

das árvores anjos de névoa perfumada - é no tremor da imprecisão que os flancos

do universo se revelam rijos Toda repetição é a identidade piscando no farol do

homem entre mares de amnésia

entre mares de amnésia anjos empastados de sangue

rompem as águas na fúria de um voo revelador