Preso no hospício? Oh, preso no hospício
Preso no hospício? Oh, preso no hospício
Diante de loucos, tontos e bobos
Preso e amarrado, sina de suplício,
Cena de simplismo e falares ocos.
Quero buscar mais, quero buscar Deus,
Quero ver mundos para além dos muros,
Encontrar ouro, ficar com os meus,
Largar as armas; espadas, escudos.
Mas estou preso neste manicômio,
Preso e maldito sem poder fugir,
Não há escolha, e eu nem tenho como
Ser por milagre tirado daqui.
Vejo os malucos lá em suas celas,
Eles imitam meus gritos de dor,
Pensam que padecem minhas mazelas,
Pensam que conhecem o meu horror.
Dizem que se encontram presos com doidos,
Que não há um único outro esperto,
E creem nisso, são firmes, afoitos,
Apostam com tudo que isso é certo.
São tolos! Estão todos copiando
Meus gritos para se fingirem sanos!
Ah, mas a mim não estão enganando,
Não sou tapeado por tais fulanos.
Preso no hospício, preso neste hospício
Tenho de aturar delírio dos outros,
Falam bobagens, julgam-me difícil,
Sem enxergar que são eles os loucos.
Indaguei a um deles sobre mim mesmo,
Queria ver se sabia a verdade,
Mas pareceu-me que o cérebro é vesgo:
"Notou" em mim a própria nescidade!
Coitados, coitados. Eles são todos
Coitados, coitados. Tão ignorantes
Coitados, coitados. Eles são doidos
Tapados, tapados, símios falantes.
Deito-me na cama, desejo o coma,
Ou uma comma, para respirar,
Pego na mesinha ao lado uma folha;
Foto minha; fico a me observar
É o olhar dum filósofo só e
Sábio demais para estar neste tempo,
Olhar pelo qual anjos não têm dó,
Olhar que não pode ficar sereno.
Por que, ó Pai, fizestes-me assim?
Não vedes que sofro de solidão?
Vejo nos outros o terrível Fim
De toda humana civilização.
Quero ser cego, cegueira é bênção,
Quero ser doido como eles são,
Que as más alienações me vençam
Para ter paz este coração.
Então dormi, chorando por saber
Que Deus jamais me fará como os outros.
Eu estou condenado a viver
Neste universo maluco de tolos...
22/2/2017