Encontro Desmarcado
Quase todos os dias, eles se encontravam.
Ela do jeito de sempre.
Ele esperando algo diferente.
O que era possível mudar ele não preteria.
E ela, prontamente, reagia.
Alegre ou triste, de noite ou de dia.
Qualquer que fora sua condição, ela o seguia.
E nunca faltou aos encontros.
Ele, por vezes, desistia.
Uma hora, ele se queixava do cansaço.
Em outras, vangloriava-se das vitórias.
Ela o alertava das atitudes a tomar.
Algo pendente sempre havia
Procurar um novo emprego, cortar o cabelo, fazer um regime.
Em tudo; lá estava o dedo dela.
Tanto irritavam seus palpites quanto sua passividade.
Se ele não fizesse, ela não fazia.
Os encontros não tinham hora nem lugar.
Ela sempre aparecia — em pé, deitada, nítida ou embaçada.
Viram-se anos a fio.
Olho no olho, olho na tez.
Por culpa do tempo,
Ranhuras nas faces de pouca magia.
Decidiu ele então, não mais olhar-se no espelho.
Desprezar sua unidimensional versão,
Velha e fria.
Existe alguém mais belo do que eu?
Morreria curioso,
Mas nunca mais perguntaria.