RITUAIS

Corpo magro e pés cansados

percorro a estrada vazia dos cavaleiros desmontados

pisando as flores murchas e as velas apagadas

do meu velório

Nem a sombra agüenta o sol

e a solidão da noite reflete o vento

a chuva pinga as cores derretidas

dos sonhos no deserto

Caminho por uma estrada cujos viajantes

sonhando motor e distância

ignoram as flores carnívoras do amor e da amizade

envoltas no capuz petrificado do crime

Outros caminhantes perdem-se na acidez do horizonte

dissolvidos entre os últimos raios do sol

e o abandono,

e nada pode resolver a crise de heroismo deste tempo,

cabeças degoladas rolam as escadarias das catedrais

tão separadas do amor quanto próximas dos negócios

Milagres são afastados da tribuna

a ciência mudou-se para o conforto dos hollerith's

e dos talk shows, enquanto a última tocha apaga

na caverna dos rituais

Corpo magro e pés cansados

espero - olhos fincados no horizonte

as primeiras chamas do sol

acenderem as velas do meu Adeus

revivendo as flores pulsantes

que mantém desperto o cão de guarda