O APELO...
Doutor eu ando cansado
O corpo suado...
E as pernas tremendo
A vista não é mas a mesma,
Pareço uma lesma
Sem nada tá vendo!
Doutor me diga o que faço
Pra dá força ao braço,
Que não movimenta
Não sinto mas a sustança
Nem tenho esperança
De ir pros oitenta!!
Eu sinto o corpo dormente
E a mão não é quente
Como foi um dia...
O meu andar me atrasa
Só vivo em casa
Sem ter alegria!
Sei que o senhor e a ciência
Vão ter providência
Pra me ajudar,
Talvez a tal medicina
Me livre da sina
Do triste penar!!
Não quero ter o desgosto
De ver o sol posto
Sem nada fazer,
Sou homem crescido no mato
Eu sou o retrato
De quem quer vencer!
Não temo a chuva e o vento
Nem o movimento
Que faz o corisco...
Sou feito de pau de angico,
Onde planto eu fico
Colhendo sem risco!!
Adubo o lombo da terra
E ouço quem berra
Sofrendo o cansaço,
Porem sou cabrito de raça
Enfrento a desgraça
Na ponta do laço!!
Conheço a planta e a semente
E bebo a nascente
Do meu arraial,
Amanso a fome e a sede...
No embalo da rede
Tangendo o mal!
Eu durmo depois do trabalho
E o meu agasalho...
É a força da fé
E antes que o galo cante,
Eu sigo avante
Me pondo de pé!!
Doutor o senhor tem estudo
E eu não me iludo
Com coisa da crença...
Pois sei que essa peleja,
A ciência deseja
Curar a doença!!
Por isso não me engane
E nem me abane
Com coisa qualquer,
Seja forte e honesto
Me diga se presto
Para o que vier!!!
Doutor tá vendo esse sopro
Serviu de escopro
Pra talhar a vida...
Os braços, as mãos e a vontade,
Cavaram minha idade
Em terra batida!!
Hoje ando cansado
Vivi um bocado,
Tenho mas pra viver
E por seu intermédio
Há de ter um remédio
Pro meu padecer!!
Me diga se a medicina
Tem a vitamina,
Pra esse matuto
Não deixe que a pedra fria
Faça a minha Maria
Viver triste luto!!
Doutor não tenho recurso
Mas sigo o curso
Que a vida me deu,
Talvez meu pouco dinheiro...
Não pague inteiro
O serviço seu!!
O que tenho eu lhe dou
E aqui estou
Sendo franco e sincero,
Me tire dessa agonia...
Que prometo um dia,
Pagar como quero!
Não pense que morro agora
Sou feito espora
Nos pés do vaqueiro,
Porem sem força eu caio
Do canto não saio
Nem, vou pro terreiro!!
Me diga quanto lhe devo
Que eu me atrevo
A pagar a quantia
Nem que venda o que tenho,
Mas quero o empenho...
Que já tive um dia!!
Doutor tô fraco não nego
Por isso me entrego
Como um juriti,
Não quero o mal passar
Posso ate enfrentar
O seu bisturi!!!
Corte a carne cansada
E tire a malvada
Que quer me matar...
Esta infame doença
Que dá a sentença,
Antes de julgar!
Não deixe que se espalhe
Nem que atrapalhe
O resto que sou,
A mão que eu lhe estendo
É a mesma que prendo
O pouco que estou!!!
Daqui eu volto pra casa
Com o peito em brasa
E a alma fervendo...
A fé como uma navalha
Corta e retalha
O que tô sofrendo!!
Depois eu volto de novo
Com o mesmo estovo
Assim renitente...
Pedir a sua ciência
Que tenha clemência
Deste paciente!!!
Porem doutor meu amigo
Se for um castigo
Não sinta culpado
Apenas combata a ferina
Aplicando morfina,
Neste condenado!!!
O resto deixe comigo
Se corro perigo
Vou rir da desgraça,
Batendo com ela de frente...
Com unha e dente
Na tora e na raça!!!
Se acaso a dor me atingir
Eu não vou fingir
Que não tô assim...
Vou gritar mas que ela,
Ate minha goela
Sair de mim!!
Não pense que isso me assusta
Se muito me custa
Eu posso pagar...
O preço que a vida cobra
Se pouco me sobra,
Eu vou devagar!!!
Se acaso o corpo tombar
E eu me acabar
Como um velho tacho...
Mostre aos fracos doentes,
E aos seus pacientes
Como morre um macho!!!!