P R E C I O S I D A D E S (57)

SONETO DITADO NA AGONIA

Já Bocage não sou !... À cova escura

meu estro vai desfeito em vento...

Eu aos Ceus ultrajei ! O meu tormento

leve me torne sempre à terra dura.

Conheço agora já quão vã figura

em prosa e verso fez meu louco intento.

Musa !... Tivera algum merecimento

se um raio da razão seguisse pura.

Eu me arrependo ! A língua quase fria

brade em alto pregão à mocidade,

que atrás do som fantástico corria.

Outro Aretino fui... a santidade

manchei ! Se me creste, gente impía,

rasga meus versos, crê na eternidade.