palavra do sangue

eu escrevo para cortar.

minha caneta é um bisturi,

meu lápis é um bisturi,

meus dedos são bisturis.

escrevo para cortar fundo,

para olhar dentro da carne,

para sentir dentro da carne.

por meio de tantos cortes

enfio as mãos em mim --

certa de que me fizeram inverno,

certa de que me plantaram a morte --

& quando me toco na carne

sinto as entranhas fervendo.

por um momento, alívio e fome,

me coloco inteira pra dentro,

mas eu ando tão cheia de nevascas e mortes

que ao invés de me aquecer,

acabo queimando as mãos.