NESTE JARDIM
Chego com a luz do Sol
que me aquece
neste banco
neste jardim...
Aqui onde as gaivotas dormem
quando as Árvores se escondem
e a Água se move
e se ouve na sombra...
Passa uma senhora com um olhar
para o risco no Azul
neste parque citadino
onde a alma descansa
deste animal que vive em mim..
Os Patos são livres
mas andam confusos com minha presença
eu que já não tenho sentença
nem refugio..
Sou um exilado do nada
sou um vicio que me estimula
fervo na luz do Sol
descanso na luz da Lua
e na tua
que não sei quem és...
Enquanto um casal de idosos
atravessa a ponte
de mão dada enrugada
eu penso...
Chegará um momento
feito para mim
no efeito de um jardim
onde a luz que me acompanha
e me aquece
se vai esquecendo de mim
sempre foi assim...
Está a chegar a hora das crianças
o futuro chegou
hora de eu pensar
em deixar o lugar..
Pertenci aqui por momentos
muitos serão os alentos
pensamentos
onde nada surge
mas tudo existiu
neste som de Água
longe do Mar
feito de fonte..
Talvez me conte que
neste perfeito jardim
viveram anteriormente vidas duras
que se rasgaram como este chão
onde hoje corre a Água
como um ribeira selvagem.
As Gaivotas descobriram-me
vejo as sombras do bando
esvoaçando ao meu redor
enquanto escrevo..
São tantas que parece que me conhecem
pousam num Beiral
e olham-me
com um cumprimento
das almas livres.
Neste Jardim
onde decidi parar
para sossegar do meu ser
e no meu respirar
sentir a profundidade
da paz que me rodeia.
Neste banco de madeira
no empedrado laranja
onde alguns rastejantes
tal como eu
procuram o Sol
Voltarei...
Nuno Godinho
8-2-2017