TEATRO
A VIDA ENSAIA
EM GRANDE TEATRO
SEM HUMANIDADE,
ALGUÉM DESMAIA,
PRIMEIRO ATO DA VERDADE,
ABRE A CORTINA,
FECHA CORTINA
TANTOS ATOS ...
ODEIO, CHORO, AMO,
QUAL É O MEU PAPEL?
SEREI TIRANO,
OU BONECO DE CORDEL?
TALVEZ UM SUBSTRATO
DO NOSSO SISTEMA,
SEM BRILHO, OPACO,
SEM LENÇO,
SEM LEMA,
SEM RUMO ...
NO MEIO DE FRACOS,
CONTEMPLO A VIDA,
A VIDA ME OLHA
COMO FERA FERIDA,
E A CHUVA CAI E MOLHA
TANTAS MÁSCARAS DE INGENUIDADE,
TANTA HIPOCRISIA NA CARIDADE,
É NOSSO TEATRO DE ILUSÃO,
PALCO SOMBRIO
DE ATORES SEM PÃO,
TRISTE REALIDADE,
CONTEXTO SOCIAL QUE MATA,
EM CADA CANTO
UM LAMENTO, UM PRANTO,
MAS HÁ SEMPRE UM RISO IRÔNICO,
QUE DEBOCHA E DESACATA,
O DIREITO DE SER
O DIREITO DE VIVER,
E AINDA CONTRACENO
COM TANTOS IMPOSTORES!
NESTE TEATRO OBSCENO
DE CEGOS COMPOSITORES,
NÃO ESCOLHO,
NÃO SOU ESCOLHIDO ...
QUERO RESPOSTA
E SOU PRETERIDO,
AH! PALCO CATIVEIRO
QUE SUGA E CORROE,
LONGE DE SER HERÓI,
EIS O QUE SOU
POBRE E SIMPLES BRASILEIRO.
Andrade Jorge
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