Para outros dias
Haverá dias em que terei que te olhar assim
Como não te conhecesse nunca, nem nua
Nem triste
Para que esta saudade ossuda e corpulenta
Lentamente não me esmague
Haverá dias em que te tratarei rispidamente
E como um louco arranharei tua alma
Para que esta lembrança amarela e crua
Não cave em mim imensos precipícios
De areia
Haverá dias e que desejarei teu sumiço
Para que esse amor não me tire o sono
Não enlouqueça os sentidos e os pulsos
E se preciso for baterei a porta em tua face
E não chamarei teu nome em vão
Haverá dias que andarei nas pontas dos dedos
Bem devagar pela praia deserta do teu ser
Pois por vezes a demência é a porta certa
Para fugirmos do paraíso
Milton Oliveira
10fev/2017