Brasília, a nossa
Ai ave branca
De asa azul
De peito verde
Fantasiada
De avião;
De ti preciso;
Da tal magia
Tão decantada,
Em prosa e verso.
Pergunto agora:
Fama e destino
Dessas paragens
Certas serão?
Peço-te ouvidos,
Terás agora
Que me ajudar;
Fazer-me crer
Que aqui mesmo
Devo acampar,
Se é verdade
Que continente
E conteúdo
Abarcam tudo
Que um vivente,
Pobre, sem luxo,
Possa esperar.
Se confirmado
Que é verdade
Teus horizontes
Teu céu, teus montes
São benfazejos,
Então me rendo,
Hei de ficar.
Fortes indícios
Dessas notícias
Em meio às Quadras
Fácil, senhores,
De se notar:
Nos teus gramados.
Catando insetos
Bicando mangas
Ou abacates
Ou jamelões,
Pisoteados,
Mas que importa
Se a se fartar
Correm ligeiros
Ou voam livres
De galho em galho
Leves e soltos
Entre esses outros
Os joões-de-barro
Os bem-te-vis
E os sabiás.
Do Lago migram,
De vez em quando,
Garças e outras
Aves pernaltas
De outras plagas,
De bicos longos
Próprios, no jeito,
Para pescar.
Também há gentes
De todos lados
Jeitos, sotaques
Brasil inteiro
A domicilio
Aqui, oh gente,
Já fez seu lar.
E ultimamente
Até estrangeiros
De todas partes
Vêm ansiosos
Te adotar.
E há crianças
E brincadeiras
E algazarras
Vida em constante
Aprimorar.
Já tem História,
Tem o Graminha,
E um certo Táxi
Que os peraltas
Da Asa Sul,
Que confusão,
Apelidaram
De Alemão.
Se há uma outra
Brasília, gente,
É outra mesmo,
Bem diferente,
Não é a nossa,
A nossa é viva,
Esfuziante,
Se não tem praia,
Se não tem mar,
Tem nosso Lago
A que chamamos
Paranoá.
Por essas e outras,
Daqui em diante,
Aqui é o pouso,
Será o ninho,
Ponto final.
Junto ou sozinho,
Este é o lugar
De descansar.
Sina cigana,
De um turbilhão
Do vago mundo,
Chega, amigos,
Desse eterno,
Externo e interno,
Perambular.
(Brasília, 1985/2015)