Tão bela

É intenso,

intransponível,

improvável,

mas mesmo assim ele quer viver,

quer se desenvolver,

quer cavalgar meus passos incansáveis.

Quem disse que eu pedi um peso?

Eu só queria um pouco de atenção.

Mas nunca parei de andar,

quis parar várias vezes,

mas não parei.

Eu era um grãozinho,

e esse mesmo grãozinho pôde sentir um mundo em cima,

esteve a um passo dos limites da escuridão.

Mesmo sendo tão pequena,

eu jamais deixei de prosseguir.

Fui a procura de dias melhores, eles nunca vieram, eu sempre esperei.

Agora não posso desistir, de forma alguma,

eu nunca posso desistir,

não posso voltar.

Tão bela!

Cândida,

serena,

pura,

puramente inocente,

devidamente calma.

Lúcida?

Talvez.

Vozes veladas,

em tempos idos,

constantes de mim.

Não posso dizer se vivo,

se respiro,

se decreto o dia de não ser.

Achava que poderia relevar minhas dores,

passar sem alarmar,

mas elas estão aqui.

Todos dias as vejo,

converso com elas,

comem no prato comigo.

Não era aquela época,

é aquele gosto,

aquele jeito,

aquele gesto.

Brusco,

seguro,

indelével...