QUEBRO A REGRA

Tornou-se obsoleto pelo desgaste

Amor e dor rimando na frase

Dizem assim os mestres do verso

Proprietários das verdades do verbo

Contudo rezo que a rima ainda vale

Corriqueira e efêmera para os que cantam

Carrega toda a semântica das desventuras

Dos episódios de Sheakpeare e Eça

Das aflições dos poetas de esquina

Mesas de bares, púlpitos, púbis

Primos Basilios das devassas Julietas

Onde existe bem-querer por perto

De certo que desdouro se avizinha

Como então censurar na voz e na letra

O namoro de quem junto caminha?

Valho-me não dos tratados dos livros

Das convenções que norteiam poetas

Mas sim das cicatrizes gritantes

Dos mortais que por amar são errantes

Que por respirar são amantes

Por sofrer são doentes

E por tudo isso, contentes

E se insistirem na censura à rima cantada

Nesta luta serão impotentes

Ainda rimo verso e universo

Badalo do sino e choro de menino

Até que me provem de forma exata

Que destino não rima com desatino.