Meus olhos assistiram o mundo.
O mundo se modificou.
O mundo em que nasci era outro,
Não este mundo torto.
O mundo não roubava sonhos,
Os transformava em realidade.
Nasci num mundo de janelas abertas,
Onde os olhares se cruzavam diariamente,
Sem medo de se encontrar.
Cresci num mundo de água potável,
A sede morria, não as pessoas.
O homem era o homem
Em comunhão com o mundo.
Perambulei por terras distantes,
Outros portos, outros costumes,
Terras de semear, chão para pisar,
Ar para respirar.
Até o amor era mais presente,
A solidão distante,
A tristeza?
Ausente...
Meus passos entre pétalas perfumadas,
Faziam da estrada um caminhar suave,
Deixando para trás
O que poderiam ser espinhos.
O mundo não comprava egos,
Não se consumiam vaidades,
E a verdade era uma veia exposta
Nos corações sinceros.
Não era um mundo jovem ou velho,
Era um mundo para todos,
Por todos,
E de todos.
Seria uma ideia tola
Mudar esse mundo
E o modo em que vivíamos.
Mas os ratos nascem nos esgotos
E se multiplicam na podridão.
Escolhem os lugares escuros
E se escondem nas curvas dos becos.
O mundo estava mudando.
Senti os dentes do progresso
Dilacerando a carne,
Consumindo a vida,
Despertando a morte.
O que chamavam de futuro
Era o agouro de um sinistro amanhã.
Na mesma condição de espécie,
Hoje os ratos caminham entre nós.
Nós estamos nos becos.
Mário Sérgio de Souza Andrade – 06-02-2017