INTERLUDIO

Guardei por uns dias

as paixões e os medos,

trancados num sótão

cheio de coisas que nem lembro.

Equilibrei-me

às custas de tempos maus,

e de momentos diferidos dos outros,

buscando memórias mais simples

do que aquelas que teimam em surgir.

Empertiguei-me em poses

de soberba antiga,

e chorei solidões calmas

em desencantos frios.

Permiti-me, uma vez mais,

pensar nos preços

que pagamos pelas ausências

dos que se vão para sempre.

E acabei por regressar

à minha vida de hoje,

em espasmos de satisfação,

achando-me mais livre,

mais solto de memórias vãs...

E também mais único.

( sobraram apenas

vagos traços de sangue

evaporando-se em volutas rosa,

rumo a tempos de dúvidas,

e passados distantes...)

2006