Coração Oxigenado
Eis que viajo na flâmula do tempo.
Contemplo a vida, cheiro vida, esbato em vida,
no decurso do meu voo.
Espio o cais lá adiante, as vagas não arrebentam lá,
veem arrojadas contra o paredão do meu peito
e eu as aparo com insólito deleite.
Gaivotas sobrevoam e aspiram ao peixe luzidio
na piscosa água crespa e ondulante.
Não estou só: penso em ti!
E oxigeno meu coração com a tua imagem,
sôfrega por beijos, ardente por carícias...
Sei que me esperas além do curvo horizonte
e hei de me abastecer em teus cálidos beijos,
voluptuosos abraços aquecerão minha carne excitada.
Me acolherás no topo da montanha quase inacessível,
pois aí está o fascínio de buscar-te, envolver-te em afagos,
sob a ogiva do céu lustroso e de nuvens opalescentes.
Flores orlarão o caminho que me conduzirá a ti,
o balir das ovelhas anunciará qual arauto do amor,
a minha ansiada chegada, o meu sorriso entalhado na face,
a felicidade exposta tal um brasão de quem carrega amores,
o bastião que te protege dos avulsos gladiadores,
o homem que te fará mulher aos olhos de Deus,
ante a inércia do tempo que retardará o ocaso.