CHOVE
Chove, chove e choveu a noite inteira.
A vidraça está cheia de pinguinhos;
A água chora cantando na goteira,
Os bichinhos recolhem-se a seus ninhos.
Sinto dó de todos os passarinhos,
Seus ninhos sem o abrigo da cumeeira.
E mais ainda desses pobrezinhos,
Soltos nas ruas, sem beira nem eira.
Quanto vento! E chove tanto!
A goteira chora um acalanto
Caíram as folhas, restam espinhos.
Meu Deus, estendei teu manto
Sobre esses que sofrem tanto
Sem eira à beira dos caminhos!
*Murilo Araújo, “Manhã de Chuva”, um poema da minha cartilha de Português da quarta série: mil, novecentos, oitenta e alguma coisa...