“Campocidade”
A chuva cala o alvoroço da passarada
um ou outro ensaia um gorjeio acanhado
gotas, dezenas, me caem à face enevoada
ao redor tudo me parece silente e parado
A água transbordou bem acima do meio-fio
nuvens escuras ondulam na líquida malha
a minha rua compara-se a um rumoroso rio
meus ensejos escoam à face daquela calha
O desfile das águas passa ante a minha vidraça
os meus olhos arredios fotografam o instante
folhas e despojos se acumulam rente à praça
o sol à socapa assemelha-se a uma boia flutuante
O campesino espalma as mãos e estende os braços
após cavar passagens tímidas - berço das sementes
a claridade um dia alterou a cor do pão em pedaços
uma nova ceia irá ao centro da mesa, entrementes...