“Campocidade”

A chuva cala o alvoroço da passarada

um ou outro ensaia um gorjeio acanhado

gotas, dezenas, me caem à face enevoada

ao redor tudo me parece silente e parado

A água transbordou bem acima do meio-fio

nuvens escuras ondulam na líquida malha

a minha rua compara-se a um rumoroso rio

meus ensejos escoam à face daquela calha

O desfile das águas passa ante a minha vidraça

os meus olhos arredios fotografam o instante

folhas e despojos se acumulam rente à praça

o sol à socapa assemelha-se a uma boia flutuante

O campesino espalma as mãos e estende os braços

após cavar passagens tímidas - berço das sementes

a claridade um dia alterou a cor do pão em pedaços

uma nova ceia irá ao centro da mesa, entrementes...

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 30/01/2017
Código do texto: T5897408
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