METRÔ LINHA 03

Logo cedinho
a cobra metalica
sai engolindo
cuspindo pessoas
nas bocas das estações
Patriarca, Penha, Carrão,
Tauapé, Sé, Anhangabaú
República, Barra Funda,
pessoas robotizadas,
sonolentas, perfiladas
nas escadas rolantes
advogados, vendedores,
enfermeiros, professores,
biscateiros, miltares
poetas, colegiais, pastores
secretárias, corretores,
dogueiros, chapeiros,
desempregados,
aposentados,
nos cantos dos vagões
retardatários dorminhocos
acomodando sonhos.
Metrô é movimento,
transportando
delirios, sonhos, caos, apertos
encoxadas dos tarados de plantão,
dividas, dúvidas, fossa, fé, solidão
num amontodado de pessoas.
Todas têm os mesmos semblantes
todas fazem as mesmíssimas coisas
olhares fixados nas telas
dedilhando os celulares
como se fossem arrimos
transparecendo antrofobia.
Em cada estação anunciada
se dispersam anonimamente
teleguiados pelos aplicativos
ensurdecidos nos fones de ouvidos
levando nesses aparelhos eletrônicos
o pouco que sobrou de si mesmos.