Nevoeiro
Não fiquei para ver as nuvens
que se agigantavam
engolindo o céu.
Ali com a mão na corda e ela no pescoço,
não permaneci para o trágico espetáculo.
Muitos chegaram junto com o nevoeiro.
Olhos curiosos, bocas falantes, ouvidos moucos.
No céu o desastre fora anunciado,
mesmo assim,
o foco era meu cadáver pendido na corda
presa à frondosa árvore.
Um som ecoou como um trovão,
pois que confuso percebi que era apenas
notas piano.
Morrer é entrar num nevoeiro,
dar atenção aos sons
sempre reprimidos, abafados,
dissipados,
pelas batidas do coração.