A memória tem mãos de médico


A memória tem muitas mãos.
Umas afagam-me o cabelo,
outras tapam-me os olhos
para que não entre a luz afiada
na pele cortando caminhos
através da carne,
dilacerante.

A memória tem mãos
que tiram a febre,
auscultam a incapacidade
de voltar a repetir feridas
demasiado ferozes.

A memória tem mãos
que tapam os ouvidos
e nos deixam a salvo da voz
que anunciava
a ilha a arder,
mais não éramos
que essa ilha a arder.

Mãos que nos contagiam
com um sono acordado,
o precário sono da vida.
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 24/01/2017
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