Estava com minha amiga num banco
Estava com minha amiga num banco
Conversando sobre coisas, rotinas,
Quando veio uma mulher de tamanco
Falando que éramos dois machistas.
- Não! - dissemos, mas - Sim! - ela teimou;
- Não! - repetimos, mas - Sim! - insistiu;
- Então nos diga o que você notou,
Que machismo afinal você viu.
Ela sorriu - Valeu por perguntar,
Prestem atenção, que vou explicar.
- São machistas: ela está vestindo
Roupas que são, na cara, opressoras.
Neste calor devia usar shortinhos,
Não essas calças de conservadoras.
Aposto que só se veste assim
Para agradar esse controlador.
Sei que ele a ameaça, sim!
"Ou veste calça ou perde meu amor!"
Livre-se já das correntes, amiga,
Não sinta vergonha, você é linda!
Minha amiga quis se explicar:
- Não me sinto mal vestida assim,
Uso a roupa que me agradar,
Meu amigo não quer mandar em mim.
Mas a do tamanco não desistiu:
- Por favor não minta para si mesma,
Até mesmo ele está de bermuda -
(Verdade, uma bermuda vermelha) -
Tome controle sobre a vida sua!
Minha amiga e eu nos encaramos;
Estava louca essa do tamanco?
- Vou provar que ele é opressor -
Então deu a amiga uma caixa.
Dentro dela, vestido exibidor
Escuro que não escondia nada.
- Diga, menino, ela pode usar
Esse vestido se sentir vontade?
- Não! Vestir isso seria faltar
Respeito com a nossa sociedade!
Um vestido pervertido assim
Não usa garota que é pra mim.
Nós vimos a do tamanco sorrir:
- Viram só? Vocês dois são, sim, machistas!
Amiga, você precisa sair
Dessa relação que a faz oprimida;
- Muito obrigada, mas eu me nego,
O vestido é mesmo inadequado.
Algo assim incomoda até cego,
Acho melhor um traje antiquado.
Aqui neste banco não há machismo,
É fraco e falho o seu feminismo.
A mulher do tamanco foi embora
Murmurando seus ódios e tristezas.
Estou com a amiga até agora,
Ela é a rainha das princesas.
Nunca entendemos a do tamanco
E acho que não vamos entender,
Volta e meia ela volta ao banco,
Mas sem nada de bom para dizer.
Não há razão no "teste do vestido",
Eu jamais compactuarei com isso.
21/1/2017