mais um dia de chuva que traz divagações fragmentadas

Já dois dias de chuva. Acabei de ler uma notícia que um trem lotado não teve passagem num bairro aqui perto. É duro depois de um dia cansativo, outra luta pra retornar a seus lugares. Imagino a multidão que vai ter que pegar um ônibus pra chegar em casa, algumas estão mais animadas por terem mais tarde um encontro, uma doçura de uma noite esperada ou até mesmo uma vida até aqui sem muita frustração. Claro que tem aqueles que não se importam, tanto faz o horário, a vida sempre lhe esteve de costas, ou eles de costas pra vida, ninguém sabe essa matemática, de todo modo para esses a solidão do trem será a mesma de quando chegar em casa casa.

Eu já estive nas duas pontas, amorosamente bem amparado, e muitas vezes com as tripas doendo de tanto vazio, um vaso trincado que não segurava mais nada. Como diz o malandro vingativo, a vida dá volta, e logo alguma ilha se anuncia no oceano dos encontros. Quantas vezes já não saltei na praia, aliviado, depois de um afogamento? água de coco, frutas, sombras, sol, a beleza dando bofetada, e como é bom, apenas um canto bom nos poupando das corrosões do tempo e da memória, no fundo, o silêncio dos bons encontros.

Quando se tem amor, até a dor dói diferente, dói como uma dorzinha lá dentro, como uma fruta madura, d somente o abraço e o beijo desejado. Porque dor ruim é somente aquela sem esperança, essa do enamorado se entrelaça nos resto da vida e até se confunde com ela , é só um tempero que esquenta.

Quem acredita que encontrou o seu idílio final , recomendo não se gabar muito para os camaradas, toda sorte muda, e toda praia é tomada pela maré nalgum ponto do dia. Alias, não devemos falar quase nada quando o campo é felicidade, isso acelera o trabalho da lua. Muitos corações se fere com facilidade com o bom instante do outro. Nesse ponto sempre fui um boca aberta, muitos enjoos poderia ser evitados apenas dosando um pouco a língua. Entretanto, como não contar o amor que está tremendo dentro da gente, o doçura daquela moça que ainda nos adoça o corpo. Tem coisa que fica mais real se contar. Então a gente deixa de fazer essas coisas, e dizemos que ficamos mais maduros, enfim. Maturidade anda de braços dados com tédio.

Esses dias de chuva, temos saudades de tudo, ou todo sentimento parece saudade, encolhemos dentro da gente, em rara tranquilidade, o coração aceita sua incompletude, o abismo ao lado, respiramos mais fundo e dizemos sem palavras que a vida é boa, que esse tempo fechado é bom. Ate o mal falado escuro da alma tem seu palco de liberdade.

O escuro foi onde tive os amores mais violentos, mais cruéis, e mais inesquecíveis. Não quero admitir, mas os amores mais significativos foram os que mais me sequelaram.

Quando termino essa crônica os rosto daquelas pessoas do trem, passaram pela minha cabeça, e creio que a maioria já amou, correspondido ou não, tem uma dor para cuidar, e apenas isso já faz essa vida valer a pena.

Andrade de Campos
Enviado por Andrade de Campos em 21/01/2017
Reeditado em 21/01/2017
Código do texto: T5888900
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