O FIM DA INFÂNCIA

Sob o sol eu vi tantas coisas e ouvi tantos mantras e preces...

Fui tantos personagens da minha própria encenação de realidade, do meu teatro particular ou público...

Vi centenas de rostos e pude questionar cada sentimento que eles me provocavam

Procurei cada o rastro dela

Rastejei em busca do sentido que perdi num sonho após o almoço, fui ao penhasco da minha memória...

E obviamente caí

Aos meus pés de novo, num loop infinito

Quando ela acabou?

Onde me despedi dos meus brinquedos e passei a ver tudo sob um funil de cinismo necessário a minha sobrevivência?

Quando ela se foi em meio ao barulho que não consegui distinguir de onde vinha e de onde reverberava?

Cadê os cadernos que continham os planos de sucesso e viagens intergalácticas?

Ficaram talvez no canto de um quarto que em algum sonho monocromático eu esqueci...

Repousam em meio aos meus grandes planos de vitória em cadernos cobertos de pó

Cadê minhas piadas inocentes que não feriam ninguém tampouco tinham graça? Cadê meus amigos do ginásio que hoje são sombras numa tela sobreposta em infinitas outras?

Minha juventude e minhas referências ainda me perseguem, porém agora com uma condescendência que antes era rara, bem rara...

Os sinos das igrejas de bairro agora são inaudíveis pois não moro mais num bairro, moro hoje numa memória, num resquício de uma velha cinza fria que teima em arder embora já tenha se apagado...

O fim da infância é só a constatação da morte...

O estalo que te lembra da finitude de tudo

Principalmente da sua.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 21/01/2017
Reeditado em 21/01/2017
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