Espelhos
Não sou mais
Que um passante na chuva,
Na rua escura,
Na falta de eletricidade...
Não sou mais
Que um pobre rosto molhado,
Desfigurado, despenteado,
Pobre pinto molhado
Que acha rima e não precisa...
Não vou mais
Que ao fim da rua,
Volto de novo,
Passo de novo,
Todo ensopado,
Repetindo sempre,
Voltando sempre...
Não venho mais
Que passar aqui,
Olhar nas vidraças em sombra,
Cobertas de noite-velha, uma vez, outra vez,
Querendo decorar o rosto de alguns,
Alguns, somente alguns
Que nunca se olharam aqui...
(Belo Horizonte, MG/1970)