Espelhos

Não sou mais

Que um passante na chuva,

Na rua escura,

Na falta de eletricidade...

Não sou mais

Que um pobre rosto molhado,

Desfigurado, despenteado,

Pobre pinto molhado

Que acha rima e não precisa...

Não vou mais

Que ao fim da rua,

Volto de novo,

Passo de novo,

Todo ensopado,

Repetindo sempre,

Voltando sempre...

Não venho mais

Que passar aqui,

Olhar nas vidraças em sombra,

Cobertas de noite-velha, uma vez, outra vez,

Querendo decorar o rosto de alguns,

Alguns, somente alguns

Que nunca se olharam aqui...

(Belo Horizonte, MG/1970)

William Santiago
Enviado por William Santiago em 20/01/2017
Código do texto: T5887675
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