Até Deus duvida
Nasceu um corguinho
Por entre as mangueiras.
Sua água abre a boca e
Engole
As flores que nascem em novembro
E as vozes sujas de terra
Das criancinhas.
Na nascente
Escrevi um nome
Que não desceu.
Na batalha
Atirei num soldado
Que não morreu.
Da cor dos seus olhos
Me vinha o mistério das coisas
Que nunca vi:
A neve branca da Suécia,
Uma viagem pelo mar,
Guerra entre as tribos de África,
A morte e o silêncio consequente.
Por entre as mangueiras,
Nasceu um corguinho
Engolidor
Das flores de novembro e das sílabas
Sujas de terra das criancinhas.
E conversamos.
Contou-me coisas de que até Deus duvida.
(Belo Horizonte, MG/1972)