Até Deus duvida

Nasceu um corguinho

Por entre as mangueiras.

Sua água abre a boca e

Engole

As flores que nascem em novembro

E as vozes sujas de terra

Das criancinhas.

Na nascente

Escrevi um nome

Que não desceu.

Na batalha

Atirei num soldado

Que não morreu.

Da cor dos seus olhos

Me vinha o mistério das coisas

Que nunca vi:

A neve branca da Suécia,

Uma viagem pelo mar,

Guerra entre as tribos de África,

A morte e o silêncio consequente.

Por entre as mangueiras,

Nasceu um corguinho

Engolidor

Das flores de novembro e das sílabas

Sujas de terra das criancinhas.

E conversamos.

Contou-me coisas de que até Deus duvida.

(Belo Horizonte, MG/1972)

William Santiago
Enviado por William Santiago em 19/01/2017
Código do texto: T5886612
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