MUITO ME DÓI POR DENTRO
Casas antigas e abandonadas
Doem-me por dentro.
Não entendo bem o que me causam,
sofro pela vida que nelas houvera,
antes que partissem seus moradores.
Penso nos alpendres que, por certo,
exibiam vasos primaveris
e nos olhos das janelas
atrás das cortinas.
Chego a ouvir as cantigas de mães
entre as cotidianas paredes
e o burburinho de crianças no terraço.
As vidraças fechadas,
o ferrolho nas portas
silenciam a vida de outrora.
Na memória, cessa o ruído
das máquinas de costuras
que preparavam vestes para as festas
e cerziam vidas em desalinho.
Quintais escondem calçadas
sob o mato crescido, sem os passos
que levavam e traziam sonhos.
Tudo é cor de solidão
e o abandono das casas
muito me dói por dentro.
Dalva Molina Mansano