Cinco Horas da Manhã
Silêncio ajunta as malas
E vai procurar
As plagas que têm ainda
Cinco Horas da Manhã.
Aqui,
Doze mosquitos leem, em voz alta,
Trechos das Sagradas Escrituras.
Cortinas de plástico estudam
Balé russo.
Aqui,
Pela casa adentro,
Vento frio vem,
Passa as mãos nas pernas das cadeiras
E conta casos para as cortinas do Berioska.
Aqui,
Faz frio, é manhãzinha,
E minhas mandíbulas praticam
Telegrafia.
Lá fora,
O nevoeiro experimenta roupa nova
Nas casas coloniais,
Buzinas contam histórias
De pão, trigo e Rio Grande,
E sinos, casos de Sétimo-Dia.
(Belo Horizonte, MG, 1969)