Dia de ombros molhados
Uma constatação: chove.
Terça-feira, água fria.
Um dia de ombros molhados
Nas goteiras do universo.
Dia de homens cansados,
Que arrastam por aí o cadáver
Sem se preocupar;
Sem saber da verdade da chuva.
Tragédias no noticiário, doce sabor
Da desgraça alheia.
Cama quente, chocolate quente
Pra trazer o bom humor.
Pela janela, ônibus lotados de
Gente úmida.
Fumaça do cigarro aquecendo o corpo,
Os pulmões mofados;
Celas em forma de lar que abrigam
Letrados.
Carreiras aqui e ali.
Cheiro de mulher.
Uma transa para esquecer da lama
E chafurdá-la melhor.
Uma criança, em trapos,
Correndo na chuva,
Brincando de Deus,
Pedindo esmolas
No fundo do mundo.